quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Embraer é exemplo de gestão e inovação

Executivo revela os segredos de engenharia e de gestão da empresa

Pense em uma empresa brasileira de classe mundial, referência em tecnologia de ponta e capaz de concorrer com gigantes internacionais em um mercado altamente complexo, como o da aviação. Embraer, claro, é o nome dela. Líder mundial no segmento de aviões de 70 a 120 assentos, a companhia se tornou um exemplo de modelo a ser perseguido quando o assunto é gestão, inovação e competitividade global.

E é para apresentar alguns dos segredos desse sucesso que o diretor de desenvolvimento tecnológico da Embraer, Fernando Ranieri, estará hoje em Porto Alegre, no Novotel. Ele participa de um seminário promovido pela Associação P&D Brasil - presidida pelo gaúcho Luiz Francisco Gerbase - e que reúne empresas do setor eletroeletrônico de base nacional. Nesta reportagem, Ranieiri fala da trajetória da fabricante de aviões na busca pela excelência nos negócios e dos desafios de envolver todos os colaboradores nessa missão.

A base do sucesso

Inovação, tecnologia de ponta e gestão são a base do sucesso. Uma empresa que não tem a inovação no sangue e não pratica isso diariamente, buscando a diferenciação em tecnologia, marketing, processos ou na sua imagem, não vai conseguir se manter no topo por muito tempo. A inovação leva a uma melhoria contínua dos processos e produtos, tornando as operações mais competitivas diante dos seus concorrentes.

Os recursos envolvidos na inovação

A Embraer tem hoje 5,2 mil pessoas na área de engenharia e tecnologia. Dessas, 250 trabalham com Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) pré-competitivos, que é a pesquisa ainda não aplicada. O restante atua com o desenvolvimento de produtos ou suporte.

As quatro fases

Temos 44 anos e passamos por diversas fases. A primeira foi a tecnológica, quando éramos a empresa que ousava fazer avião em um país de terceiro mundo. Quase ninguém acreditava que seríamos capazes disso. Quando a empresa foi privatizada, tivemos que nos focar na criação de uma cultura mais empresarial de negócios. A fase mais recente, de 10 anos para cá, é a volta da necessidade por inovação em prol do diferencial.

Segredo para chegar ao patamar atual

Você tem que ter a cultura da inovação enraizada e saber que isso pode levar anos para ser construído. Essa visão precisa ser disseminada entre todos os colaboradores, pela criação de programas que integrem as pessoas na busca por excelência, qualidade, produtividade e inovação. O segredo é o trabalho conjunto em torno dessa cultura.

O desafio de inovar na indústria aeronáutica

Em um mercado altamente competitivo e exigente como o da aeronáutica, a necessidade de inovar é potencializada, especialmente no que se refere a aumentar a segurança. Os engenheiros da Embraer sabem que precisam criar aviões que voem cada vez mais e em um espaço aéreo carregado de aeronaves, com controles acirrados de navegação. Ao mesmo tempo, os nossos produtos precisam ser eficientes do ponto de vista dos ruídos e em consumo de combustível, para não poluir tanto. A concorrência é grande para que cada um tenha produto mais moderno, eficiente e mais barato de operar.

No ritmo dos avanços tecnológicos

Estamos em um segmento intensivo em alta tecnologia e precisamos acompanhar esse ritmo. É o próprio mercado que dita a necessidade de inovação. O nosso foco é conseguir atender da maneira mais inovadora e criativa possível aos requisitos da indústria aeronáutica, que é muito exigente. Isso tem levado a Embraer a elevar constantemente o nível dos seus processos de gestão e produtos.

Eficiência é obsessão

Cada gestor e colaborador nosso tem em mente a necessidade de fazer as coisas diferentes e dar o seu melhor em todos os campos de atuação. O operador da linha de produção, por exemplo, sabe a importância do trabalho dele para o resultado final da empresa e trabalha para buscar excelência na sua atividade. Na engenharia, buscamos fazer diferente. O foco é eficiência sempre.

Os resultados práticos dessa visão

Cada produto novo que colocamos no mercado possui características inovadoras. Um exemplo é o ERJ Jato 145 regional, de 50 passageiros. Antes de ser lançado, esse segmento de mercado era ocupado por grandes aeronaves - o que tornava a operação muito cara - ou pelo modelo turbo hélice, que tem alto nível de ruído e vibração, o que costumava incomodar as pessoas. Resolvemos fazer um jato regional, que voa na mesma altitude dos demais aviões e, assim, acabamos criando um nicho de mercado. Já no Embraer 170 e no 190, usamos um novo conceito para aumentar o conforto na cabine. Tradicionalmente, a fuselagem é cilíndrica. O passageiro que sentava na poltrona perto da parede ficava desconfortável. Inovamos ao fazer com que a parte de cima da fuselagem tivesse um diâmetro maior, criando uma espécie de bolha que garante mais espaço para o ombro e para a cabeça, mesmo em avião regional. São mais de mil aviões da Família Embraer de jatos 170 e 190 voando no mundo. No Brasil, um dos nossos clientes é a Azul.

Cinco produtos por ano

Somos ousados nessa questão de múltiplos desenvolvimentos simultâneos. Neste momento, estamos criando cerca de cinco novos modelos de aviões. É algo altamente complexo, que exige muita organização de processos e pessoas da engenharia.

A segunda onda da excelência

A nossa busca pela excelência é contínua. Mas, recentemente, decidimos dar um arranque mais forte, em um plano ambicioso. Não nos contentamos mais em apenas fazer benfeito. Inauguramos a segunda onda do Programa de Excelência Empresarial, que tem uma identidade própria e a missão de trabalhar os processos da empresa em todos os seus níveis. A ideia é ter uma cultura única.

Os diferenciais competitivos

Somos referência em ciclo de desenvolvimento de novos produtos. Demoramos de cinco a sete anos entre a concepção e a chegada ao mercado. O engenheiro brasileiro é mais criativo. Isso resulta na capacidade de conseguirmos cumprir com os requisitos de certificação aeronáutica de maneira inovadora, fazendo de forma mais simples, objetiva e com menor custo.

Os concorrentes

A Embraer é líder mundial no segmento de mercado de 70 a 120 assentos. A Bombardier é a nossa maior concorrente, mas existem outros players chegando a essa mesma faixa de assentos, especialmente de Rússia, Japão e China. Por isso, temos que manter o ritmo de inovação.


Jornal do Comércio - RS
Patricia Knebel



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