Apesar da corrente de comércio entre o Brasil e a Rússia ter
diminuído nos últimos anos, a parceria estratégica com a nação europeia segue
sendo relevante para o País, no cenário das relações internacionais. Já que
alguns dos principais produtos importados da Rússia pelo Brasil estão
relacionados à tecnologia de ponta na área de energia nuclear, aeroespacial e
químicos.
O professor de comércio internacional da Universidade Anhembi
Morumbi, José Meireles de Sousa, afirma que a participação de comércio entre os
dois países ainda é relativamente pequena. Ele informa que, enquanto a Rússia
tem uma participação de cerca de 1,2% em tudo o que o Brasil importa, o País
participa de 1,9% das importações russas.
No entanto, o professor de relações internacionais da Universidade
de Brasília (UNB), Roberto Goulart Menezes, diz que, apesar da pequena
participação, a pauta de exportação russa é relevante política e economicamente
para o Brasil. "A Rússia detém tecnologia na área aeroespacial, de energia
nuclear, químicos e fertilizantes. Esses produtos são, estrategicamente,
importantes para o Brasil", diz o professor. Por outro lado, algumas das
mercadorias exportadas do Brasil para a Rússia são produtos primários, como
carnes, soja e café.
No ano passado, autoridades da Rússia e do Brasil declararam que
as duas nações pretendem aumentar para US$ 10 bilhões anuais o volume de vendas
entre os dois países. No ano de 2013, a corrente de comércio entre os dois foi
de US$ 5,650 bilhões.
Para Sousa, o aumento do intercâmbio comercial brasileiro com a
Rússia precisa ser feito com base em produtos manufaturados. "A Rússia é
um país que precisa ser mais bem explorado pelos brasileiros, com base em
produtos manufaturados", diz. "Comércio internacional não é só
exportação. O Brasil precisa se apropriar das cadeias globais e ter controle
sobre a sua riqueza. O que nós produzimos aqui somente é agregado valor lá
fora".
O professor de relações internacionais da Escola Superior de
Propaganda e Marketing (ESPM), Darlan Moraes, e dono da empresa Nova Opção,
especializada em aproximação de negócios com o Leste Europeu, diz que as trocas
de comércio entre o Brasil e a Rússia ainda estão muito concentradas nos
governos, devido à cooperação estratégica. "Se o Brasil quiser decolar com
esse comércio bilateral, o empresariado vai ter que começar a olhar para a
Rússia e vice-versa", diz.
Moraes afirma que as oportunidades para os negócios brasileiros na
Rússia e no leste europeu existem, mas que as distâncias culturais acabam
distanciando as empresas dos dois países. "Eu entendo que as empresas
nacionais, ao começarem seu processo de internacionalização, procuram por
países mais conhecidos", afirma. "No entanto, a Rússia é o quinto
mercado consumidor do mundo. E os negócios naquele país ainda estão muito
concentrados em São Petersburgo e Moscou, é como se fosse o Brasil da década de
1980, no eixo Rio-São Paulo. Seria interessante, portanto, para o empresariado
brasileiro aproveitar oportunidades no vasto território russo". Ele
acrescenta que uma das características que aproxima o Brasil da Rússia é ainda
a burocracia para se fazer negócios.
Ucrânia
Para Moraes, a posição de neutralidade do Brasil em relação aos
conflitos que se seguem na Ucrânia está relacionada com a parceria estratégica
com a Rússia. "Como estamos lidando com fatores estratégicos e
governamentais, fica difícil para o Brasil tomar uma posição com relação à
Ucrânia. Isso pode criar uma problemática para o governo brasileiro", diz.
Além disso, afirma Moraes, se a diplomacia brasileira se posicionasse contra a
Rússia, isso destoaria muito com a sua política.
Os conflitos na Ucrânia são resultado de uma divisão interna
histórica no país que foi acirrada no final do ano passado pelo abandono de um
acordo de associação à União Europeia (UE) e de manutenção das tradicionais
relações com a Rússia.
Para Menezes, a neutralidade do Brasil é entendida no contexto dos
BRICS, associação de comércio formada pelo Brasil, Rússia, Índia e China e
África do Sul. Nesse sentido, "os conflitos na Ucrânia tendem a ser
atendidos pela diplomacia brasileira como parte da relação diplomática com a
Rússia". O professor diz ainda que a corrente de comercio Brasil e Rússia
diminuiu nos últimos anos por conta da crise de 2008, momento em que o Brasil
começou a procurar outros mercados.
Fonte: Diário do Comércio e Indústria
07/07/2014
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