Um processo logístico
intermodal completamente integrado no Brasil - que envolveria portos,
hidrovias, ferrovias e rodovias - ainda é um sonho distante. Com as concessões
ferroviárias emperradas e a privatização dos portos engatinhando, o sonho da
eficiência logística ainda é remoto. No entanto, empresários e analistas
calculam que, com um processo integrado, o valor do frete cairia pela metade, o
tempo seria reduzido em até 30% e o setor poderia avançar com mais força.
O primeiro passo para a
intermodalidade, segundo empresários e especialistas, se daria com a ampliação
da malha ferroviária, que hoje ainda é pequena no País.
Segundo consultor em logística
e diretor da Trading Best Company, Roberto Jerer Fialkovits, a expansão da
malha ferroviária resolveria um problema crasso da realidade brasileira.
"Hoje, um terço do PIB brasileiro é proveniente do agronegócio, no
entanto, há perdas enormes em todo processo de transporte do grão. Desde dentro
do armazém, à espera de transporte, até no processo rodoviário e
portuário", diz ele ao DCI.
Na visão do executivo, o
chamado custo Brasil interfere diretamente nos planos de expansão das empresas
brasileiras, somada ao grande risco que o governo ainda repassa. "Antes
dos incentivos para esse setor, é preciso que o governo passe credibilidade. O
risco Valec é apenas um dos pontos que intimida o investimento."
O planejamento de uma logística
integrada, para Fialkovits, aparece também como de extrema importância.
"Não basta o dinheiro, é preciso planejar. O governo e a iniciativa
privada precisam entrar em acordos e buscar soluções enxutas. Todos os países
que possuem intermodalidade tem operações concisas, com menor custo".
Operação ferroviária
No final da década de 1990, uma
onda de privatizações levou à iniciativa privada cerca de 26 mil quilômetros de
malha ferroviária. Segundo dados da Associação Nacional dos Transportes
Ferroviários, deste montante, 22,8 mil km estão em operação e 5,5 mil é
subutilizado ou não utilizado. "A média de operação é boa, o problema é
que o Brasil precisaria dobrar a malha para começar a ser competitivo",
afirmou o presidente da transportadora de grãos Transpoint, Carlos Brandão.
Para o executivo, com uma malha
ferroviária adequada, sob os padrões apontados pelo governo, resultaria em
redução de 50% o valor do frete cobrado.
"De acordo com o Programa
de Investimento em Logística, anunciado pelo governo federal em 2012, as
ferrovias seriam concedidas à iniciativa privada, que construiriam a malha e
devolveriam à Valec, que revenderia os espaços nos vagões para transportadores.
Nesse cenário, nosso custo cairia pela metade, já que atravessamos o Brasil via
rodovias", explicou ainda o executivo ao DCI.
As chances de que esse programa
se consolide, para Brandão, são muito baixas. "O governo não conseguiu
convencer os empresários a investirem. O mundo vive em crise, o momento não é
bom e o governo não repassa segurança", detalhou.
Como faz?
Um levantamento feito pelo
Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos) endossa a opinião de Brandão.
Segundo o estudo, o transporte no Brasil é apoiado na malha rodoviária (62% de
uso), seguida da ferroviária (24,1%), aquaviária (14%). "Em um país de
extensão parecido com o Brasil, como os Estados Unidos, o transporte
ferroviário responde por 43% do mercado, seguido por rodovias [32%], e
aquaviários [25%]", diz Rubens Feitosa, professor de engenharia civil com
ênfase em logística da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O professor, que tem sua tese
de doutorado apoiada nas relações do transporte entre países como Brasil,
Estados Unidos e Rússia, apontou ainda que a explicação para o ramo logístico
não deslanchar no País é a malha restrita. "O PIB logístico soma, por ano,
entre R$ 500 e R$ 650 bilhões e ainda sim, nos Estados Unidos e na Rússia a
logística é 25% e 30% mais barata."
Além das ferrovias, o aporte em
hidrovias e melhores condições de mobilidade dentro dos portos também aparecem
como essencial. "A costa brasileira poderia ser muito mais bem utilizada,
no entanto, a cabotagem ainda engatinha no País", disse Feitosa.
Fonte: Diário do Comércio e Indústria
11/07/2014
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