Principal
importador global de carne suína in natura, o Japão comprou, nos seis
primeiros meses de 2014, 639 toneladas da carne brasileira, o
equivalente a US$ 2,44 milhões. Os montantes são pequenos se
considerarmos um mercado que importa cerca de 800 mil toneladas
anualmente, mas é motivo de comemoração para as seis empresas
brasileiras que receberam o aval do governo japonês, em maio do ano
passado, para começar a exportar para aquele país. "A história da luta
para abrir o mercado japonês é longa. Agora eles já estão acelerando as
compras e gostando da carne brasileira", diz o presidente-executivo da
Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra. As
discussões com Tóquio ocorriam pelo menos desde 2006 e o simbolismo da
vitória brasileira é que o Japão atendeu ao princípio da regionalização
no controle da febre aftosa da Organização Mundial de Saúde Animal
(OIE). Historicamente, o país asiático só importava a carne se o país
inteiro estivesse livre da doença. Com a exceção concedida, o Japão
autorizou os embarques de seis frigoríficos - em um total de nove
plantas - instalados em Santa Catarina, maior produtor e exportador de
carne suína no Brasil e único Estado com status de "livre de aftosa sem
vacinação". "Eles são muito ciosos com a questão da sanidade, são um
mercado exigente. O momento agora é o de implementar a abertura que
conseguimos. Em um segundo momento é natural que ocorra um
reconhecimento gradativo de outros Estados. O Brasil tem um status
sanitário impecável", completa Turra. O caso da carne suína mostra como
barreiras não-tarifárias, que incluem sobretudo medidas sanitárias e
fitossanitárias, impedem uma maior evolução do comércio bilateral. Dados
da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que após atingir US$
17,34 bilhões em 2011 - auxiliada pelo ápice histórico nos preços
internacionais das commodities - a corrente de comércio entre os países
patina na casa dos US$ 15 bilhões. As exportações de Brasília com
destino a Tóquio somaram US$ 7,96 bilhões em 2013, avanço de apenas
0,11% ante o ano anterior. Já as compras de produtos japoneses somaram
US$ 7,08 bilhões no ano passado. Em 2014, no acumulado de janeiro a
junho, os embarques totalizam US$ 3,28 bilhões, queda de 14,33% na
comparação com igual período do ano passado. São três os fatores que
fazem com que o comércio não avance, na opinião de José Augusto de
Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). O
primeiro é porque o Japão é um mercado altamente exigente. "O segundo,
porque eles tradicionalmente demoram para tomar uma decisão, caso da
mistura do etanol na gasolina. Por último, porque a logística do Brasil é
caríssima. O fato de o Japão estar do outro lado do mapa faz com o que
produto brasileiro, que já é caro, fique ainda mais onerado. A exceção
são as commodities alimentícias ou minerais, que o Japão acaba comprando
do Brasil", diz. No topo da pauta de exportações brasileira estão
produtos como minério de ferro (com fatia de 29,98% de tudo o que foi
embarcado em 213), carne de frango processada (12,09%) e milho (11,31%).
Esse alto grau de exigência com a segurança alimentar muitas vezes se
transforma em barreiras - os padrões sanitários e fitossanitários
japoneses são historicamente mais rígidos que os dos EUA e União
Europeia e existem orientações restritas em termos de rotulagem, uso de
aditivos e conservantes -, situação que não é exclusividade dos suínos.
Foram três décadas de negociações até que o governo nipônico autorizasse
as importações de mangas brasileiras, sob a alegação de contaminação
pela larva da mosca da fruta. O Brasil já exporta regularmente mangas
para aquele país. Os produtos, porém, passam por rigoroso tratamento
térmico e acompanhamento in loco por inspetores japoneses. "Outras
variedades de manga, além da Tommy Atkins, deverão ser autorizadas em
breve para exportação, após análise dos testes realizados no Brasil,
também com tratamento hidrotérmico para controle de moscas das frutas. O
caqui deverá ser a próxima fruta a ser submetida a análise", informa
Mauricio Borges, presidente da Agência Brasileira de Promoção de
Exportações e Investimentos (Apex). Um dos setores que sofrem atualmente
com as restrições japonesas é o de carne bovina. O Japão, ao lado de
China e África do Sul, suspendeu as compras da carne brasileira em
dezembro de 2012, após o Brasil reportar à OIE um caso atípico de
encefalopatia espongiforme bovina (EEB, ou mal da vaca louca) em 2010 -
em um animal que não foi levado ao abate e não chegou a desenvolver a
doença. A China levantou o embargo no último dia 17 de julho. O Japão
discutiu a questão com o governo brasileiro na recente visita do
primeiro-ministro Shinzo Abe ao país, mas ainda não sinalizou o fim do
embargo. "Está complicado. O país é historicamente criterioso na área
sanitária, dificulta o trabalho, exige muitos documentos e explicações. A
OIE reconhece o status do Brasil como de risco insignificante para EEB,
mas os trâmites burocráticos no Japão nos complicam", diz Fernando
Sampaio, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias
Exportadoras de Carne (Abiec). Mesmo sem identificar problemas nas 26
plantas brasileiras habilitadas a exportar, o embargo japonês à carne
industrializada brasileira foi total. Em 2012, último ano de
exportações, foram vendidos US$ 8,89 milhões ao Japão.
Valor Econômico
19/08/2014
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