O título desta coluna, expressão que ficou conhecida no ramo da chamada economia do desenvolvimento, continua valendo, garante o economista Nelson Marconi, professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP). Ao comparar 63 países (32 de renda média e 31 de renda alta), ele aponta que o perfil exportador de manufaturas (produtos mais elaborados e, portanto, de maior valor agregado) continua prevalecendo nos países com maior PIB per capita do mundo, salvo algumas raras exceções. “Como regra geral, constata-se uma correlação alta entre os países caracterizados como de renda alta e os maiores exportadores de manufaturas, em oposição aos países mais atrasados (africanos e latino-americanos), exportadores de recursos naturais.”, afirma Marconi. Mas não é só. Se os ricos são os que exportam mais manufaturas, estas últimas, por sua vez, vez, seguem sendo o segmento que mais produz valor no comércio internacional de mercadorias. De acordo com os dados reunidos pelo professor, as manufaturas (em dólares) respondiam por 74,4% do total exportado no mundo de 1991 a 1995. Passaram para 70,5%, de 2006 a 2010, basicamente por causa da escalada recente do preço dos derivados de petróleo. Elaborado por Marconi junto com as economistas Cristina Fróes e Eliane Araújo, o estudo foi publicado recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A conclusão é cristalina: a composição das exportações é um fator importante para o crescimento econômico. “As exportações de manufaturados estimulam a demanda interna, o processo de aprendizado no trabalho, a produtividade e o desenvolvimento de novas vantagens comparativas”, diz Marconi, acrescentando que este segmento também estimula a produção de bens com maior conteúdo tecnológico. “Gera-se um processo de crescimento cumulativo”, explica ele. E, obviamente, para exportar manufaturas, é necessário que o setor seja objeto de políticas governamentais eficientes. O Brasil parece trilhar o caminho oposto ao da riqueza: a participação da indústria brasileira vem caindo tanto no PIB quanto na pauta das exportações. Além de boas políticas, Nelson Marconi também aponta o nível da taxa de câmbio como fundamental no incentivo à indústria. O tema é delicadíssimo para os defensores do chamado tripé macroeconômico, que inclui o câmbio flutuante. Sempre que pode, o professor desafia o paradigma, lembrando que diversos países asiáticos usaram o câmbio depreciado como forma de desenvolver seus parques industriais. O economista chefe da consultoria LCA, Bráulio Borges, mostra que o atual nível de juros praticado pelo Banco Central, na casa de 5% reais (descontada a inflação), está longe de ser neutro, diferentemente do que afirmam analistas defensores de taxas mais altas. De acordo com um estudo recente de Borges, os juros atuais colocaram, sim, o país em um nível de atividade desinflacionária. Seria de se esperar, portanto, que a inflação estivesse caindo mais rápido. Mas, segundo Borges, dois alvos da política monetária não estão reagindo como esperado nos esforços de combate à inflação.Hoje, a desaceleração da taxa de crescimento observada no consumo das famílias e nos investimentos é bastante semelhante à ocorrida em períodos de arrocho monetário anteriores. Segundo o economista da LCA, a política monetária conseguiu provocar desaceleração relevante do ritmo de alta dos preços industriais no atacado e dos itens não comercializáveis do IPCA (cabeleireiro, escola e aluguel, entre outros). Já as expectativas de inflação (que deveriam, conforme os modelos da LCA, ser as primeiras afetadas) e os preços livres mostram resistência, apesar da evidente queda da atividade e da demanda. Borges aponta que aparentemente há “alguns ruídos” limitando o impacto da política monetária sobre a inflação brasileira. No caso das expectativas, é longa a lista de problemas: incertezas sobre os reajustes dos preços administrados em 2015 e sobre a evolução da taxa de câmbio; dúvidas (um tanto surpreendentes) sobre se realmente a atividade se encontra em um campo desinflacionário e, consequentemente, se novas elevações nos juros seriam necessárias; dúvidas na contribuição da política fiscal para reduzir a atividade; e, por fim, a perda de credibilidade da política econômica como um todo. Apesar dos obstáculos, o economista acredita que a redução das incertezas sobre a correção dos preços administrados e o reforço da credibilidade da política econômica — não necessariamente passando por um novo ciclo de alta da Selic, ressalva — poderiam ajudar na convergência mais rápida da inflação para o centro da meta em 2016.
Brasil Econômico
17/10/2014
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