Na
virada de 2013 para 2014 também existia, entre os analistas, a
percepção de que o déficit em transações correntes tinha atingido seu
pico e desaceleraria em 2014, em um ajuste também impulsionado pela
desvalorização do real. A moeda efetivamente perdeu valor, mas o déficit
subiu de cerca de 3,5% para 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB). A
lógica econômica mais simples continua valendo. A equação não deu certo,
dizem os especialistas, por efeito direto das intervenções
microeconômicas feitos pelo governo na economia. "O câmbio real continua
sendo a variável de ajuste do setor externo", diz Tony Volpon,
economista-chefe do Nomura. "Mas um conjunto de políticas feitas pelo
governo Dilma isolaram os preços dos impactos da depreciação cambial".
Dentre essas medidas, diz Volpon, uma das mais importantes foi a
política do governo de impedir o repasse dos preços internacionais da
gasolina ao mercado local. Se o preço da gasolina tivesse sido
reajustado de acordo com o dólar, a demanda pelo produto teria
desacelerado junto com a sua importação. Como resultado, a balança
comercial teria melhorado, o que não aconteceu. "Sem as distorções
ocorridas, para um mesmo câmbio, o déficit em conta corrente seria
menor", ressalta Volpon. Do lado do financiamento do déficit em conta
corrente, a farta liquidez internacional também ajudou o investidor
fechar essa conta mesmo diante de um nível de câmbio mais apreciado. É
como se, em meio ao real mais caro, o investidor externo tivesse cobrado
um preço menor para trocar seus dólares porque os juros a 11% ou 12%
tornam a economia brasileira imbatível como alternativa de investimento.
"Então, ele se dispõe a financiar o excesso de demanda agregada do país
com o câmbio a R$ 2,20 e não R$ 2,50", diz Volpon. Desde o período
eleitoral, no entanto, o real tem oscilado fortemente e atualmente testa
a barreira dos R$ 2,50. Em um segundo momento, a expectativa é que essa
mudança de preço, pelos desdobramentos que vai ter sobre a economia,
deve diminuir o déficit em conta corrente. Isso se o governo não voltar a
isolar os possíveis impactos do câmbio sobre a economia doméstica. Para
Volpon, dada a menor oferta de capital externo, é provável que o
governo vai deixar o câmbio funcionar, sem aumento no nível de
intervenção. "Aí podemos vislumbrar no futuro que o déficit vai cair".
Valor Econômico
05/11/2014
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