quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Intervenções impediram ajuste em 2014


Na virada de 2013 para 2014 também existia, entre os analistas, a percepção de que o déficit em transações correntes tinha atingido seu pico e desaceleraria em 2014, em um ajuste também impulsionado pela desvalorização do real. A moeda efetivamente perdeu valor, mas o déficit subiu de cerca de 3,5% para 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB). A lógica econômica mais simples continua valendo. A equação não deu certo, dizem os especialistas, por efeito direto das intervenções microeconômicas feitos pelo governo na economia. "O câmbio real continua sendo a variável de ajuste do setor externo", diz Tony Volpon, economista-chefe do Nomura. "Mas um conjunto de políticas feitas pelo governo Dilma isolaram os preços dos impactos da depreciação cambial". Dentre essas medidas, diz Volpon, uma das mais importantes foi a política do governo de impedir o repasse dos preços internacionais da gasolina ao mercado local. Se o preço da gasolina tivesse sido reajustado de acordo com o dólar, a demanda pelo produto teria desacelerado junto com a sua importação. Como resultado, a balança comercial teria melhorado, o que não aconteceu. "Sem as distorções ocorridas, para um mesmo câmbio, o déficit em conta corrente seria menor", ressalta Volpon. Do lado do financiamento do déficit em conta corrente, a farta liquidez internacional também ajudou o investidor fechar essa conta mesmo diante de um nível de câmbio mais apreciado. É como se, em meio ao real mais caro, o investidor externo tivesse cobrado um preço menor para trocar seus dólares porque os juros a 11% ou 12% tornam a economia brasileira imbatível como alternativa de investimento. "Então, ele se dispõe a financiar o excesso de demanda agregada do país com o câmbio a R$ 2,20 e não R$ 2,50", diz Volpon. Desde o período eleitoral, no entanto, o real tem oscilado fortemente e atualmente testa a barreira dos R$ 2,50. Em um segundo momento, a expectativa é que essa mudança de preço, pelos desdobramentos que vai ter sobre a economia, deve diminuir o déficit em conta corrente. Isso se o governo não voltar a isolar os possíveis impactos do câmbio sobre a economia doméstica. Para Volpon, dada a menor oferta de capital externo, é provável que o governo vai deixar o câmbio funcionar, sem aumento no nível de intervenção. "Aí podemos vislumbrar no futuro que o déficit vai cair".
Valor Econômico
05/11/2014

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