Embora
boa parte dos analistas espere uma melhora apenas na margem para o
déficit em transações correntes, já há quem diga que um dólar médio em
níveis mais altos trará alívio maior às contas do setor externo em 2015.
Os 25 economistas ouvidos pela consultoria FocusEconomics em relatório
mensal sobre a América Latina projetam, na média, uma queda do déficit
em conta corrente brasileiro dos atuais 3,7% do Produto Interno Bruto
(PIB) para 3,3% em 2015. O dólar a R$ 2,53 e um superávit na balança
comercial de US$ 8,9 bilhões no ano que vem devem favorecer essa queda.
Para uma dessas instituições, o Nomura, o dólar ainda mais forte, em R$
2,85 no fim de 2015, vai reduzir o déficit em conta corrente em um
ponto, para 2,7% do PIB. Nas contas da LCA Consultores, a moeda nem
precisa chegar a tanto: uma taxa de câmbio entre R$ 2,40 e R$ 2,50 será
suficiente para trazer o déficit em transações correntes para 2,9% do
PIB em 2015 - afastando-o de vez do nível de 4% do PIB, considerado
perigoso pelo mercado, pois de financiamento mais difícil. "O ajuste já
está em curso. Nas contas externas o próximo governo não vai ter que
fazer nada", diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. A
melhora, diz ele, virá basicamente da balança comercial, seja por conta
de câmbio mais competitivo seja porque a perspectiva é de um mundo
crescendo um pouco mais no ano que vem. O setor de petróleo e derivados é
outro fator importante a ajudar o setor externo. "A Petrobras inaugura
agora em novembro a refinaria de Abreu e Lima, diminuindo muito a
dependência de importação de diesel, o que acaba pressionando nossa
balança comercial nessa parte de petróleo e derivados", diz Bráulio.
Para ele, o hoje é um déficit de US$ 8 a US$ 9 bilhões pode virar um
superávit em 2016, 2017, tanto pela inauguração da refinaria quanto pelo
crescimento da extração. Menos otimista, Tony Volpon, economista-chefe
do Nomura, avalia que a redução do déficit em transações correntes no
próximo ano virá de uma imposição externa. Segundo ele, essa queda será
puxada por um mundo bem menos disposto a financiar o Brasil e outros
emergentes com déficits altos em conta corrente, em razão da expectativa
de retomada de alta dos juros americanos. Nesse cenário, ou o real se
desvaloriza e abre espaço para a queda do déficit ou o rombo tende a
crescer ainda mais, levando o país para uma crise cambial. Na tentativa
de mais uma vez segurar a inflação, ressalta o economista do Nomura, o
governo pode até agir de forma a suavizar o ajuste no câmbio. "Mas se
não deixar o real se desvalorizar, o governo pode ganhar a batalha, mas
perder a guerra. Porque no fim do dia o déficit em transações correntes
vai caminhar para níveis que, no passado, levaram a crises cambiais",
afirma. "E ter um déficit de 4% quando o Fed ensaia subir juros é a
combinação perfeita para crise". Segundo Volpon, o ponto importante a
ser entendido é que com os termos de troca em queda - o que pressiona
negativamente a balança comercial - e uma inflação superior a de seus
parceiros comerciais, o Brasil vai precisar de uma desvalorização
cambial relevante em termos nominais para reequilibrar as contas
externas - daí a expectativa de um dólar a R$ 2,85 no fim de 2015. Como o
câmbio mais fraco cobra um custo alto sobre a economia (a queda do
consumo), a alternativa, diz Volpon, seria um mix entre desvalorização
cambial e ajuste fiscal mais crível. O Itaú Unibanco prevê leve melhora
para o déficit em transações correntes em 2015, para algo perto de 3,5%
do PIB. Segundo a economista Julia Gottlieb, a depreciação do real pode
efetivamente ajudar a balança comercial, assim como tirar um pouco de
pressão sobre a conta de serviços. A previsão é de um dólar a R$ 2,50 no
fim de 2015, mas a perspectiva está sob revisão e o viés é de baixa.
"Não estamos tão otimistas por conta da queda dos preços das
commodities", diz Julia. Ainda assim, o Itaú espera que o superávit da
balança comercial saia de cerca de US$ 2,5 bilhões em 2014 (número
também em processo de revisão) para US$ 7 bilhões no ano que vem. Já o
Bradesco vê grandes desafios no cenário para as transações correntes,
cujo déficit deve ficar em 3,7% do PIB em 2015, após alcançar 3,8% do
PIB em dezembro deste ano. De um lado, a forte queda dos preços de
commodities (agrícolas e minério de ferro) exercerá efeito máximo sobre o
valor exportado. Por outro lado, a elevada expansão esperada da
produção doméstica de petróleo - que nas contas da equipe deve superar
15% em 2015 - deve resultar no crescimento expressivo das exportações,
balanceando, em parte, o efeito da queda de preços. Para a equipe, no
entanto, os fatores combinados devem gerar um saldo comercial ainda
muito próximo de zero, com estabilidade das contas de serviços e rendas.
Em relatório, a equipe econômica do Bradesco diz ser importante
salientar que "dadas as condições presentes hoje no mercado externo no
que diz respeito à liquidez internacional, esse nível de déficit parece
ser financiável". Para Borges, da LCA, como o Brasil tem recebido cerca
de 3% do PIB em investimento estrangeiro direto (IED), um déficit nesse
nível já estaria de bom tamanho. "É o que tem que acontecer: o déficit
tem que cair para um nível inferior ou igual ao IED, que é fonte de
financiamento de longo prazo bastante saudável", diz.
Valor Econômico
05/11/2014
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