De acordo com o diretor do Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty, ministro Ronaldo Costa Filho, uma das maiores preocupações para o comércio exterior brasileiro hoje é o acordo comercial entre União Europeia (UE) e Estados Unidos, que ainda está em andamento.
"Esse acordo tem o potencial de tirar mercado do Brasil, de tirar exportações brasileiras em alguns itens que somos competitivos, como na agricultura. Pelo tamanho econômico desses países, eles podem negociar novos padrões do comércio mundial, sem que ocorra qualquer participação do Brasil", disse ontem durante seminário realizado pelo Departamento de Direito e pelo Centro do Comércio Global e Investimento, ambos, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Questionado pelo DCI sobre quais poderiam ser esses novos padrões, Costa Filho aponta as mudanças nas regulamentações que tem a aprovação, atualmente, pela Organização Mundial do Comércio (OMC). "Com esse acordo as mudanças poderiam ser nas regras de origem, barreiras técnicas, barreiras sanitárias ou não sanitárias, entre outras", exemplificou o ministro.
Segundo ele, a solução para tanto é um engajamento cada vez maior do governo federal com esses países e que o Brasil participe mais das discussões. "Além disso, nós temos que negociar com outros parceiros que manifestam o interesse pelo País. E tem uma lista enorme que já nos pediram e vamos seguir com isso", comentou Costa Filho.
Por outro lado, o ministro afirmou que as negociações com a União Europeia estão mais avançadas. De acordo com ele, a discussão sobre um acordo comercial entre o Brasil e países europeus começou em 1965, mas foi suspenso em 2004 e retomado em 2010, com "um clima muito mais favorável" para uma conclusão. "Se antes esse acordo tinha um cunho mais político, agora o foco é econômico, com interesses muito igualitários. Antes havia uma má vontade do setor privado, e um desinteresse do governo brasileiro, hoje, a pressão dos empresários é muito maior", disse.
Contudo, a embaixadora da União Europeia no Brasil, Ana Paula Zacarias, alerta para a necessidade urgente que o Brasil tem em concluir esse acordo. "Se avançar na pauta de discussão o acordo com os Estados Unidos, a parceria com o Brasil vai ficar de fora. Porque será decidir entre carne de Montana ou uma picanha. O momento é agora", avaliou Ana Paula, que também participou do evento da FGV. Pesquisa apresentada ontem pelo diretor titular adjunto do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Mario Marconini, realizada pela entidade em conjunto com o Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), mostra que as exportações brasileiras para a UE com um acordo subiriam 12%, ao passar de US$ 33,631 milhões para US$ 37,557 bilhões.
E as importações também aumentariam 38%, de US$ 29,120 milhões para US$ 40,062 milhões, com vantagens para os setores de agricultura, petróleo, gás natural e carvão, bebidas e tabaco, couro e calçados, entre outros.
Outro importante acordo comercial apontado no estudo seria com os Estados Unidos, cujas vendas nacionais teriam alta de 10% (de US$ 15,691 milhões para US$ 17,326 milhões), e as compras de produtos norte-americanos, cresceriam 34%, beneficiando, além dos setores citados no caso do acordo com a União Europeia, carnes de suínos e aves, açúcar, óleo vegetal, entre outros.
Para Marconini, o que falta para que o Brasil conclua esses acordos pendentes é ter mais lógica econômica. "Ainda há muito interesse político envolvido."
China
O ministro conselheiro da Embaixada chinesa no Brasil, Wang Qingyuan, que também esteve do evento da FGV, afirmou que o país asiático - hoje, o principal parceiro comercial do Brasil - tem interesse em fazer mais acordos de livre-comércio, inclusive com esta nação. "A China como os demais países tem trabalhado para ampliar sua participação no comércio global. No caso do Brasil, acredito que a China tem interesse, mas ainda não tem nada em discussão", afirmou.
Questionado também pelo DCI, sobre o que precisa ser feito para que comecem as negociações, o ministro chinês apontou que, no primeiro momento, a intenção de um acordo tem que partir do setor privado. "Os empresários precisam formar um grupo de trabalho para tanto, e o governo tem que representar essa intenção", disse.
Na opinião dele, outra solução seria que o setor privado brasileiro investisse em publicidade na China. "Um dos principais produtos vendidos pelo Brasil é o café, mas o chinês não conhece. Alguns anos atrás, a população consumia só chá, mas desde que começou a passar propaganda do café colombiano, os mais jovens se interessaram em experimentar a bebida. O café brasileiro é tão bom quanto o colombiano, mas o chinês não sabe disso", afirmou Wang Qingyuan.
Fonte: Diário do Comércio e Indústria |
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