Os sinais de recuperação da atividade econômica e do mercado de trabalho nos Estados Unidos deixam mais perto o início do aumento da taxa de juros pelo Fed (o BC americano). A presidente do Fed, Janet Yellen, disse ontem que é possível subir os juros ainda este ano. Se concretizada a elevação, será a primeira desde 2006. E chegará num momento em que a economia brasileira ainda está longe de ter se recuperado. Com os juros mais altos nos EUA, a tendência é que os investimentos internacionais migrem para a economia americana, pressionando o dólar no Brasil. "Se a economia evoluir como esperamos, as condições econômicas provavelmente tornarão apropriado, em algum momento este ano, elevar a taxa", disse Yellen em depoimento preparado para o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara, em Washington. As declarações de Yellen trouxeram forte volatilidade ao mercado de câmbio. O dólar chegou a subir para R$ 3,166 logo logo após o discurso da presidente do Fed, mas depois cedeu e acabou terminando os negócios de ontem com leve desvalorização de 0,15%, a R$3,135. Atualmente, as taxas de juros nos Estados Unidos estão entre zero e 0,25% ao ano. No Brasil, estão em 13,75% ao ano. O processo de elevação deve fazer com que parte dos recursos atualmente alocados em mercados emergentes migre para o mercado americano, considerado o mais seguro do mundo. Por essa razão, o Brasil enfrenta uma corrida contra o tempo para tentar melhorar o seu quadro econômico antes que isso aconteça. "O ideal seria o Brasil ter aproveitado essa janela (antes do aumento dos juros nos EUA) e reduzido os desequilíbrios internos e externos, mas o que observamos é que a equipe econômica encontra uma grande dificuldade do ponto de vista político para colocar esse processo em prática", avalia Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da FGV e ex-presidente do BC. Langoni lembra que o déficit nas contas externas do Brasil até se estabilizou pouco acima de 4% do PIB (maior patamar desde meados de 2001), mas encontra dificuldade em ceder devido à demora na recuperação da balança comercial brasileira. Já do ponto de vista fiscal, as contas públicas continuam se deteriorando, com uma maior relação entre dívida e PIB. Em maio, a dívida bruta era de 62,5% do PIB, 8,2 pontos percentuais maior do que há 12 meses e não há expectativa de arrefecimento. "Como o ajuste fiscal ainda sendo implementado, a recuperação da economia brasileira acabou sendo adiada. Nesse cenário, a alta dos juros nos Estados Unidos será um complicador e irá causar maior pressão sobre o câmbio", complementou Langoni. Essa pressão significa, em termos práticos, uma saída mais acelerada de recursos de investidores estrangeiros do Brasil. Com um fluxo negativo, a tendência é de valorização do dólar. "O cenário econômico sensível faz com que a alta dos juros nos Estados Unidos possa ser pior para o Brasil. Estamos numa corrida contra o tempo para tentar melhorar o máximo possível os nossos fundamentos econômicos", disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Mizuho Bank. Já sob efeito da preocupação em relação à implementação das medidas de ajuste fiscal eem meio à visita de técnicos da agência davaliação de risco Moody's ao Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo teve queda de 0,63% ontem.
Valor Econômico
16/07/2015
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário