Com mercado interno combalido, maior competitividade dos produtos brasileiros começa a movimentar a balança Se existe um setor com perspectivas de voltar a colocar a economia brasileira novamente para girar, é o comércio exterior, dizem os especialistas. Mesmo com a demanda chinesa menos voraz do que na última década, a aposta é que a desvalorização cambial e a tendência de melhoria na produtividade, tanto pela mão de obra quanto via infraestrutura, deixarão os produtos brasileiros mais competitivos. Apesar de representar uma parte pequena da economia brasileira, em torno de10% do PIB, o aquecimento do comércio exterior é o começo para uma reação que deve movimentar novamente a produção. "Não é a primeira vez que as exportações serão colocadas no centro da recuperação da economia", diz Thomaz Zanotto, diretor do departamento de relações internacionais e comércio exterior da Fiesp. "Dado ao exaurimento do mercado interno, só mesmo as exportações nos salvarão." Com isso, as dificuldades do comércio exterior brasileiro, que se agravaram nos últimos três anos, tendem a se tornar um retrato do passado. Se num primeiro momento, a mudança no patamar cambial provocou a paralisação dos negócios, o efeito da desvalorização do real já começou a ser sentido. Deficitária até maio, a balança comercial do País voltou a se tornar superavitária desde abril, sobretudo pela queda nas importações. A expectativa para os especialistas é que ela feche o ano positiva, ao contrário de 2014, quando o País importou US$ 4 bilhões a mais do que exportou. Para a consultoria MB Associados, por exemplo, a balança deve ficar positiva em US$ 9 bilhões. A cesta de moedas acompanhada pelo Banco Central, que desconta a inflação do período, voltou aos patamares cambiais da crise de 1999, quando houve a desvalorização do governo FHC. "Manter o câmbio valorizado foi um erro de proporções gigantescas", diz Zanotto. "Quando se segura a moeda, se subsidiam as importações e, num primeiro momento, o produtor nacional perde o mercado externo, para depois perder também o mercado interno para os importados." O lado mais triste da recessão, o desemprego, também tem um peso nessa recuperação. Com salários menores, os custos de produção caem. Porém, os efeitos devem ser sentidos num prazo maior do que os do câmbio. "Mesmo com a tendência de redução no custo do trabalho, ele ainda é muito alto no Brasil e deve permanecer assim por um longo tempo", diz Antonio Louro, economista da MB Associados. Isso porque a complexidade da legislação trabalhista, as demandas judiciais e a baixa produtividade por trabalhador devem permanecer nos patamares atuais. "Passado o momento mais agudo da crise, será necessário rever o pacto social, já que nossa economia não o comporta mais nos atuais patamares", afirma Zanotto. A outra área que deve trazer mais competitividade para os produtos brasileiros, a da melhoria em infraestrutura, também se dará no longo prazo. Mas é considerada inevitável. Mesmo com os efeitos da Operação Lava Jato, que paralisaram obras e licitações, investidores e empresas estão se movimentando para avançar em áreas variadas como portos, rodovias e ferrovias. Outras melhorias de infraestrutura, mais técnicas, também serão importantes no aumento da competitividade, como o portal único do comércio exterior e processos de convergência regulatória entre países. No portal, todas as liberações legais para importação e exportação, hoje mais de 20, serão unificadas. Segundo Zanotto, a expectativa é que sejam economizados algo em torno de 5% do comércio exterior brasileiro, sobretudo em redução de burocracia e custos de armazenagem. Um ganho da ordem de US$ 25 bilhões.
Estado de S. Paulo
31/8/2015 |
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