A notícia mais importante desta semana para o mercado mundial veio dos Estados Unidos, que cresceu com força no segundo trimestre, a uma taxa anualizada de 3,7% do PIB. Ao contrário do Brasil, cujo PIB recuou 1,9% no mesmo período. A taxa de crescimento americana é considerável, se comparada aos 2,3% previstos há um mês, e decola frente ao anêmico desempenho de 0,6% do começo de 2015. É consenso que os americanos dão mais um passo para sair da Grande Recessão, um processo que já dura seis anos e meio. O crescimento nos últimos anos está sendo desequilibrado, com muitas desigualdades, e abaixo do potencial, segundo especialistas. Para o Brasil, esse resultado da economia norte-americana, que é o segundo maior parceiro comercial do país, serve de alento em um momento em que o país passa por uma recessão. E para piorar, já sente os efeitos da freada da China, seu parceiro número um do comércio internacional. “Os dados que vêm dos EUA são um excelente indicador, afinal o crescimento deles puxa toda a economia mundial que está debilitada”, afirma José Augusto Castro, presidente da AEB. “Esse avanço faz a demanda por produtos aumentar e as exportações brasileiras podem se beneficiar muito”, completa Castro, que vê o timing certo para que os dois países ampliem a parceria que no passado já foi mais forte. Entre janeiro e julho, os Estados Unidos foram destino de 12,6% das exportações brasileiras, o que garantiu 17 bilhões de dólares para o Brasil. Os americanos compram prioritariamente produtos brasileiros industrializados, enquanto a China importa mais matérias-primas, carro-chefe do comércio exterior do Brasil. Os americanos compram de ferro fundido a café e açúcar beneficiado. Mas o que entusiasma o Brasil é a demanda por aviões, máquinas, calçados e veículos brasileiros. Num momento em que o setor industrial vive um quadro penoso – no segundo trimestre deste ano apresentou queda de 5,2%, em comparação com o mesmo período de 2014 – a ênfase no mercado americano parece acertado. A retomada dos EUA acontece ao mesmo tempo em que as relações diplomáticas entre os dois países voltam às boas, depois da visita da presidenta Dilma a Barack Obama no final de junho. O encontro foi cercado de expectativa, pois acontecia depois da presidenta Dilma ter cancelado uma visita a Obama que aconteceria em outubro de 2013. Na ocasião, vieram a público informações de que a presidenta havia sido espionada pela agência de segurança nacional dos EUA. O temor de que houvesse novos vazamentos enquanto estivesse em solo americano inibiu a iniciativa. Foi uma saia justa que repercutiu de modo negativo e que exigiu malabarismo de parte a parte para superá-la, com diversos encontros extra-oficiais de Obama e Dilma em eventos internacionais, como o funeral de Nelson Mandela ou o encontro na Cúpula das Américas, em abril deste ano. Nada disso, porém, afetou as relações comerciais, que mantiveram o mesmo volume e valor. Na recente visita, o presidente americano ainda assinou acordos para liberar as exportações de carne brasileira, que estavam restritas há 15 anos. Num momento em que o consumo nos Estados Unidos, que representa dois terços da economia, está em crescimento, o Brasil enxerga uma janela de oportunidade. Segundo Renato Fonseca, economista da CNI, a depreciação do real frente ao dólar acaba se transformando em uma vantagem, pois o Brasil fica mais competitivo. Isso porque menos dinheiro americano acaba comprando mais produtos brasileiros. “Temos um panorama favorável para incentivar as exportações e um forte mercado que está com um crescimento maior que o esperado”, afirma. Até julho, o comércio exterior brasileiro recuou mais de 17% em comparação com janeiro e julho de 2014. A queda é provocada principalmente pelos preços baixos das matérias-primas, com as mudanças das cotações internacionais deste ano. Isso explica, também, porque o valor das exportações brasileiras para a China já caíram 19,4%, embora o volume de produtos tenha se alterado pouco. O Brasil exporta principalmente soja e minério de ferro. O anúncio de que o país asiático está reduzindo o ritmo de crescimento e as constantes oscilações na bolsa nas últimas semanas são um sinal de alerta para a economia brasileira, já fragilizada pela recessão interna. As vendas para os EUA também foram afetadas pelas cotações de matéria-prima, mas o impacto foi bem menor. O comércio para o mercado americano caiu 9%.
El País
31/8/2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário