O setor externo contribuiu de forma positiva para o PIB do segundo trimestre, com aumento de 3,4% nas exportações de bens e serviços e queda de 8,8% nas importações, na comparação com o trimestre anterior. Para analistas, porém, boa parte da "ajuda" é reflexo do baixo dinamismo econômico pressionando os desembarques e não da expansão das exportações, o que toma a contribuição positiva do setor externo mais vulnerável. No lado dos embarques, assinalam, há poucas possibilidades de expansão por conta da baixa participação de manufaturados na pauta de exportação e da desaceleração maior da China. Nas importações, a boa notícia é que a redução não se origina só da retração no consumo, mas também da substituição de importações propiciada pelo câmbio. "Sem a ajuda do setor externo, o PIB estaria colapsando", diz Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe da Bram. Em suas contas, a absorção doméstica-soma do consumo das famílias, do governo e do investimento - tirou 5,3 pontos do PIB no segundo trimestre, contra o mesmo período de 2014. As exportações líquidas adicionaram 2,7 pontos percentuais ao produto do segundo trimestre e evitaram queda maior da atividade, que foi de2,6% em relação a igual período de 2014. A indústria, diz, pode se beneficiar desse cenário, principalmente por meio da substituição de importações. Como o consumo de importados cai mais do que a demanda doméstica, parte da demanda interna tende a se deslocar para a produção da indústria nacional, que passa a ter horizonteumpouco mais favorável do que há um ano. Ao mesmo tempo, pondera Honorato, não dá para esperar que o setor externo seja o "Santo Graal" da economia porque o cenário externo é pouco favorável aos países emergentes, com desaceleração da China e alta de juros iminente nos Estados Unidos. Para voltar a crescer, diz, o Brasil terá que resolver os problemas internos, como aumento da dívida pública, inflação alta e crescimento de salários acima da produtividade. "Não há solução mágica. [A volta do crescimento] passa por esforço continuado da atual política econômica e das empresas e famílias de se tornarem mais produtivas." "O resultado do setor externo ainda é muito fruto da recessão interna, e não uma reação da indústria e de outros setores", diz Julio Gomes de Almeida, professor da Unicamp. Para ele, o processo de substituição de importações já se iniciou."A impressão é de que ainda é uma substituição de importação fácil, sem muita sofisticação." Um exemplo, diz, são os outlets, que têm aumentado o movimento porque as pessoas não trazem mais importados do exterior com tanta facilidade.A substituição mais difícil, avalia, é a do processo de produção, principalmente em insumos e equipamentos de produção. José Augusto de Castro, presidente da AEB, diz que o processo de substituição é lento e deve se intensificar a partir de 2016, embora os desembarques devam seguir afetados pela queda de demanda doméstica. O problema é que a desaceleração da China pode ter impacto sobre o volume embarcado de commodities para o país asiático, como o minério de ferro,queneste ano já recuou 1,15% de janeiro a julho. A exposição comercial do Brasil em relação à desaceleração da China, porém, é considerada relativamente baixa na comparação com outros países emergentes, bem atrás de países como Chile, Malásia, Peru e África do Sul. Asexportações brasileiras para a China representam 2,21% do PIB, bem abaixo de outros exportadores de commodities, como Chile, com 8,18%, e África do Sul, com 12,76%. A conclusão consta de relatório da Eurasia Group, consultoria de risco político. No critério dos efeitos indiretos ao comércio exterior, o risco do Brasil é também considerado relativamente baixo. A consultoria verificou o total das exportações em relação ao PIB de cada país considerando quatro produtos que compõem a chamada "cesta chinesa" por mostrar grande sensibilidade às flutuações dedemandada China: petróleo, cobre, minério de ferro e soja.A redução de preços desses produtos, portanto, deve afetar a exportação total de grandes produtores de commodities, mesmo que o destino total não seja a China. No caso do Brasil, essas exportações somam 2,94% do PIB, bem atrás dos 16,36% do Chile ou dos 6,65% do Peru.
Valor Econômico
31/8/2015
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