quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Países emergentes são os mais ameaçados por queda nas bolsas


A queda acentuada vista nas bolsas de valores do mundo significa um problema para a economia global? Para os países ricos, a resposta é não. A alta do mercado nos Estados Unidos, que já dura seis anos, pode estar perdendo força, mas a expansão econômica não está. Para os países emergentes, é um pouco mais preocupante. Eles estão lidando não só com o recuo nas vendas para a China - especialmente de commodities -, mas também com umambiente mais competitivo nas exportações em face da desvalorização do yuan. O resultado é uma pressão de desvalorização sobre suas moedas e de alta nas taxas de juros, além de perspectivas mais fracas de crescimento. Os países ricos podem se beneficiar porque o petróleo mais barato, que na sexta-feira chegou a ser negociado nos EUA abaixo de US$ 40 o barril, eleva o poder de compra do consumidor. Os mercados de ações prosperam por dois motivos: dinheiro barato e crescimento econômico. Ao longo de todo o ano, os investidores vêm se preparando para o fim do primeiro, à medida que o Federal Reserve, o banco central americano, dá sinais de que está pronto para elevar os juros nos próximos meses, depois de mantê-los próximos de zero desde 2008. Há pouca evidência de que o crescimento econômico esteja prestes a recuar, seja nos EUA ou em outras economias avançadas. Na verdade, em julho a atividade manufatureira até acee no Japão, embora a expansão nos EUA tenha sido ligeiramente menor, segundo pesquisas com gerentes de compra divulgadas na sexta-feira pela firma de informações financeiras Markit. A economia americana começou o ano em marcha lenta, com seu produto interno bruto - a medida mais ampla de todos os bens e serviços produzidos crescendo a uma taxa anual de apenas 0,6% no primeiro trimestre e de 2,3% no segundo. Mas dados recentes de vendas no varejo e do setor imobiliário têm indicado certo otimismo. Economistas consultados pelo The Wall Street Journal esperam que, na próxima quinta-feira, o governo anuncie uma revisão para 3,3% do crescimento do PIB no segundo trimestre. Além disso, o emprego continua avançando rapidamente. As expansões econômicas geralmente terminam ou porque os bancos centrais elevam as taxas de juros de forma significativa para acabar com a pressão inflacionáriaou devido a algum choque, como uma crise financeira. Mas nada disso está em vista. Mesmo com o desemprego nos EUA em queda, caminhando para uma taxa de 5%, nível normalmente associado ao chamado "pleno emprego", ainda não há pressão de alta sobre os salários, um sinal de que a economia continua operando abaixo de sua capacidade normal. Na Europa, o cenário cíclico é ainda mais otimista. O Banco Central Europeu está comprando títulos de dívida como parte de uma política de "relaxamento quantitativo" lançada no início deste ano. A desvalorização do euro tornou as exportações do bloco mais competitivas e o desemprego acima dos níveis normais, que é sempre um legado das recessões, deixa muita capacidade ociosa disponível para o crescimento. Um grande problema para o mundo é, à primeira vista, a desaceleração da China. O país é responsável por 15% da produção econômica global e tem contribuído com até metade do crescimento mundial nos últimos anos. Mas isso exagera seu impacto sobre outros países.A China exporta mais que importa, então uma desaceleração em seu crescimento tem um efeito limitado para seus parceiros comerciais. As exportações para a China representam menos de 1% do PIB dos EUA, Reino Unido, França, Itália e Espanha, 2,6% do PIB da Alemanha e 2,7% do PIB do Japão, observa Peter Berezin,do serviço deanálise financeira BCA Research. A exceção são os países que vendem matérias- primas. Como a economia da China desacelerou, os preços das commodities despencaram. O petróleo também está sendo pressionado por uma oferta crescente da Arábia Saudita e, em breve, do Irã. Isso está beneficiando os consumidores de mercados importadores, como os EUA e a Europa, mas é um grande problema para exportadores de commodities, como Brasil e Rússia. Esse problema está sendo agravado pela decisão da China de desvalorizar sua moeda, o yuan, neste mês. Embora o banco central chinês tenha afirmado que a medida foi adotada para alinhar o câmbio aos fundamentos do mercado, ela também torna as exportações chinesas mais baratas e amplia sua participação de mercado às custas de outros países, como Coréia do Sul eVietnã. Berezinprevê queamedida terá um saldo líquido negativo para o mundo. Embora o cenário de curto prazo para os EUA e para a maioria dos países desenvolvidos ainda seja relativamente benigno, ele também é frágil. Uma das razões: no longo prazo, o crescimento subjacente está sendo corroído pelo envelhecimento da população, a desaceleração no crescimento da força detrabalho e uma queda intrigante no aumento da produtividade - uma medida da produção de cada trabalhador. O Fundo Monetário Internacional estima que o crescimento anual dos países ricos será, em média, de apenas 1,6% entre 2015 e 2020, ante 2,2% entre 2001 e 2007. Já o crescimento médio dos países emergentes cairá dos 6,7% registrados entre 2001 e 2007 para 5,2% entre 2015 e 2020. Quando o crescimento de longo prazo é menor, um país pode entrar em recessão mesmo com umchoque mais brando.A economia do Japão se contraiu no segundo trimestre deste ano eo Citigroup observou que o consumo privado lá está menor que quatro anos atrás, em parte devido ao envelhecimento da população. O segundo motivo para a fragilidade do cenário do mundo desenvolvido é que a inflação está resistindo bravamente, mantendo-se abaixo do nível de 2% ao ano que o Fed, o BCE e o Banco do Japão têm como meta. A recente queda nos preços do petróleo e a desvalorização do yuan, que derrubará os preços de tudo que a China vende, devem empurrar a inflação ainda mais para o fundo. Quando a inflação está baixa, os juros também caem, o que dá aos bancos centrais menos munição para impulsionar o crescimento. Essa falta de munição já está deixando as autoridades apreensivas e deve preocupar também investidores que frequentemente presumem que os bancos centrais ajudariam a conter mercados em queda. Até a semana passada, o Fed parecia suficiente satisfeito com as melhorias contínuas no mercado de trabalho americano para começar a elevar sua taxa básica de juros em setembro. As atas da sua reunião de julho, divulgadas na quarta-feira, relevaram, porém, que não houve consenso sobre essa decisão. Além disso, mudanças nas condições de mercado ocorridas desde então poderíam convencer as autoridades do banco central a adiar a alta das taxas. É verdade que um aumento de 0,25 ponto percentual nos juros não iria tirar a economia americana dos trilhos. Mas, em um mundo de inflação baixa e crescimento morno, mesmo uma alta modesta nas taxas poderia criar dificuldades.
Valor Econômico
24/8/2015

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